Diante da notícia de IPO de Startups que não deram lucro nos primeiros anos de vida, você empreendedor de Startup já se perguntou isto?
Esta pergunta vem tirando o sono de alguns empreendedores de Startups, principalmente diante da onda de notícias de algumas Startups que realizaram IPO (ou oferta pública de ações) na Bolsa de Valores, sem apresentar o lucro contábil, como foi o caso da UBER e da WEWORK, entre outras.
Primeiramente, para responder a esta importante questão, devemos nos remeter ao conceito de Startups, tomando por base o viés dos empreendedores, e que se traduz num modelo de negócios ESCALÁVEL, com crescimento EXPONENCIAL e que gere constante RECORRÊNCIA (repetição de uso do seu produto ou serviço pelos clientes).
Tal concepção, no entanto, não condiz com a realidade financeira, nem dos “Founders” (fundadores da Startup) nem da própria empresa que, tem muita dificuldade em lucrar logo de cara, pois estão em constante “queima de caixa” para encontrarem seu “product market fit“. Isto significa dizer que para a Startup encontrar o produto ou serviço perfeito às necessidades dos seus clientes ela usa praticamente todo o seu caixa.
Porém jamais podemos nos esquecer que uma Startup é uma empresa e ela deve sempre buscar o seu crescimento e lucro, sendo que tais indicadores nos remetem a uma frase muita usada entre os Empreendedores: “FATURAMENTO e LUCRO nunca saem de moda”.
Na realidade existe uma dicotomia entre o que é meio de crescimento – ou seja, quando uma Startup NÃO dá lucro enquanto ela está em fase de crescimento e está à procura de atingir um tamanho suficiente – e o momento em que ela deixa de ser Startup e passa a ser uma empresa consolidada, ou que cresceu o suficiente e passa a dominar o mercado, e a partir daí deixa de “queimar caixa”, tornando possível a remuneração de seus acionistas.
Assim, como sugerido no podcast da #growthaholics, da ACE, a questão seria qual é o momento correto para se apurar se a Startup dá ou não Lucro?
Muitos são os exemplos de Startups que não deram lucro inicialmente, mas por ocasião de um evento futuro de liquidez, como um IPO, passaram a apresentar lucros consistentes e finalmente deram retorno financeiro, passando a remunerar seus acionistas, como foi o caso da GOOGLE e do FACEBOOK. Porém há outros modelos de negócios, que tem apresentado muita dificuldade em demonstrar que sua atividade vai apresentar Lucro (até mesmo no futuro), como é o caso da UBER e LIFT.
Muitas variáveis devem ser consideradas, como por exemplo, se há margem de lucro da atividade ou se o modelo de negócios é lucrativo, visto que nos casos acima citados, ou seja, no modelo B2C requerer-se uma base muito grande de clientes para você conseguir fazer uma massa crítica de lucro que justifique financeiramente o modelo de negócios. Sobre os modelos de negócios, leiam nossos artigos em https://polinario.adv.br/os-modelos-de-negocios-para-startups/ e https://polinario.adv.br/os-modelos-de-negocios-para-startups-parte-ii/
Retomando a questão do uso do fluxo de caixa da empresa, temos uma estratégica de vendas muito audaciosa chamada “BLITZCALING”. Segundo Reid Hoffman, cofundador do LinkedIn e membro do conselho da Endeavor Global, blitzscaling é a ciência e arte de construir em alta velocidade empresas que servem a um mercado global.
Numa linguagem mais clara, seria uma corrida muito mais frenética para ganhar mercado. Enquanto empresas tradicionais buscam estratégias de crescimento mais sustentáveis e equilibradas, Startups que visam ganhar um nicho de mercado competitivo, se valem de todo o caixa ou investimento para utilizar-se de todos os canais de comunicação, não se importando com CAC (Custo de aquisição de clientes) ou ROI (Return On Investment).
O objetivo é que, mesmo não tendo todas as premissas de captação de clientes, ir adquirindo clientela a um custo de aquisição desmedido, porém regionalizado geograficamente. Este modelo ou estratégia de venda é mais facilmente aplicável aos modelos de negócios B2C, que precisam de maior base de clientes ou também chamada de “calda longa”.
Esta estratégia só funciona quando se tem um “BOOM MARKET“, ou seja, quando tem dinheiro disponível no mercado, como é o caso do cenário do mercado latino-americano com a presença do SOFTBANK, fundo japonês que investe em Startups.
Segundo Reid Hoffman, para explicar melhor e utilizar o “BLITZCALING”, usa-se a analogia de “família, quando se tem alguns funcionários, antes da primeira dezena”, “tribo, quando se tem algumas dezenas de funcionários, antes da primeira centena”, “vila, quando se tem centenas de funcionários, antes dos milhares”, “cidade, quando se tem milhares de funcionários”; e “Nação, quando se tem dezenas de milhares de funcionários” (daí, se multiplica por múltiplos de 100, e se chega ao número de usuários do Produto ou Serviço).
Assim, a partir das “Vilas”, isto é, a partir de empresa com receita de 1 MM de dólares e quantidade acima de 10.000 usuários do seu produto ou serviço, o uso do “blitzcaling” não seria jogar dinheiro fora, mais sim queimar caixa até o próximo nível das “cidades”.
Outro ponto relevante é a questão de como se dá ou se deu o Financiamento ou o “Fundraising” da sua Startup. Se houve um investimento em troca de “Equity” (ou participação societária) ou se o crescimento é orgânico e o financiamento se deu somente a partir dos investimentos dos “Founders”, como “Bootstrapping” ou até o Investimento Anjo, com o capital semente (seed).
“En passant”, numa relação direta com a pergunta que nos move nesse texto, veremos rapidamente os tipos de investimento para Startups e sua correlação com o lucro.
“Bootstrapping” (botas amarradas) é o investimento também chamado de FFF [family, friends and fool’s – família, amigos e loucos (por acreditarem na sua ideia)], isso quer dizer que todo o investimento é feito pelos próprios “Founders”, famílias, amigos e pessoas que “comprem a ideia” e não comprem o produto. Isso quer dizer que NÃO há retorno algum, pois tudo é revertido para o nascimento da Startup e do que ela fará.
Capital Semente serve para Startups que ainda não estouraram mas que já possuem faturamento. No entanto esse tipo de investimento ocorre na maioria das vezes em incubadoras, ou seja, em Startups que ainda precisam de suporte financeiro para implementações e organizações operacionais, longe ainda dos lucros reais e desejados.
Investimento Anjo é efetuado com capital próprio de uma pessoa física em Startups de grande potencial. O objetivo é ter retorno financeiro. Sendo esse o objetivo, fica claro que, como na fase anterior, mas mais perto, os lucros ainda não são qualificativos ou mesmo quantitativos o suficiente para falarmos de um porto seguro.
#FICA_A_DICA: Muito embora o lucro ainda possa ser algo que não esteja consolidado como desejado, nas duas últimas fases as Startups, por vezes, já alcançaram o “breakeven” que significa literalmente que ela já se paga, e os investimentos são puramente para o crescimento delas.
Venture Capital é o investimento com a contrapartida da participação acionária, com o objetivo de ter as ações valorizadas para posterior saída. Esse momento, embora com os altos riscos ligados a esse tipo de investimento, podemos considerar que já temos um lucro considerável, principalmente pelo fato de estarmos falando de investimento e participação societária.
Venture Building é um tipo de investimento mais agressivo e que visa construir um negócio através de Startups já consolidadas. Aqui é mais que “shark tank”, pois os investidores buscam por volta de 80% da estrutura acionária. LUCRO, LUCRO, LUCRO.
Assim, respondendo à questão principal, a Startup deve lucrar se conforme o momento em que ela se encontrar, tiver atingido um tamanho suficiente, se tornou líder no seu seguimento, e a partir dos Investimentos mais vultuosos (Venture Capital e Venture Building), passa a pagar dividendos aos seus investidores e acionistas; Porém, caso a empresa ainda esteja em fase de crescimento, e demande por maior queima de caixa, possivelmente, não se verá lucro contábil ou ela será mínimo, até porque o que se lucrar se reinveste e os investidores estão cientes de que seguirão paras as próximas rodadas para futura liquidação e retorno do investimento.
Thiago Visnadi – Advogado Especialista em Startup
Felipe Polinario – Advogado Especialista em Startup