Há cada ano que passa, os investimentos em Startups estão aumentando. Em 2018, os fundos, chamados de venture capital, “investiram US$ 1,3 bilhão (R$ 5,1 bilhões): volume 51% superior ao de 2017, segundo dados da Associação Latino-americana de Private Equity e Venture Capital (Lavca, na sigla em inglês)”[1].
Já em 2019, o número de investimento teve um aumento expressivo. “Só nos primeiros seis meses de 2019, os fundos de capital de risco (juntando aqui as modalidades de venture capital e de private equity) já investiram R$ 7,4 bilhões (cerca de US$ 1,8 bilhão) em 115 startups do país, segundo a Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (Abvcap) e da consultoria KPMG”[2].
Até o fim do ano, segundo previsões das duas organizações acima, o total de investimentos, deve chegar a R$ 14,8 bilhões (US$ 3,6 bilhões) no país, 9% a mais do que em 2018[3].
Como se pode notar, há grande crescimento em investimento no país. Mas como atrair um investidor para uma startup? Quais são as etapas de investimentos?
Para atrair investimentos para sua Startup é preciso montar um bom Business Plan, ter planejamento estratégico alinhado com seu público alvo, objetivos claros para cada etapa de investimento, de modo que o capital a ser investido fará com que sua Startup atinja maciçamente o público alvo esperado, no momento de tração ou escala. Importante também mencionar que não se deve pular as etapas de investimento, pois os diferentes investidores terão algo a oferecer no processo evolutivo da sua Startup.
Outra preocupação que se deve ter seria procurar o perfil certo de investidor, que possua alinhamento estratégico semelhante ao da startup, e possivelmente entenderá o momento em que sua startup se encontra, bem como não fará com que você empreendedor pule etapas importantes para o amadurecimento do seu projeto de Startup.
Como deve se dar esta abordagem do Empreendedor ao Investidor?
Normalmente, o empreendedor, após proteger o que sustenta do seu Plano de Negócios (registro de Nome, Marcas e Patentes, junto ao INPI) e elaborar Contratos Societários respectivos (MOU ou Memorando de Entendimentos, Contrato Social, Acordo de Sócios, Contrato de Vesting, NDA ou Termo de confidencialidade), deverá preparar uma apresentação, também chamada de pitch elevator, “uma apresentação rápida de um produto ou um negócio, com a intenção de “vender” a ideia para investidores, clientes, sócios ou parceiros”[4]. Com essa apresentação busca-se o primeiro contato com o investidor ou cliente, informando rapidamente qual o seu projeto, em qual mercado/segmento atua e qual solução oferecida para a dor de uma classe ou grupo de futuros clientes.
Por outro lado, ao Investidor interessado em financiar projetos de Startup, ai vão algumas dicas valiosas para se decidir sobre qual segmento investir: (i) Invista no segmento que você tenha expertise ou já tenha trabalhado, pois entenderá melhor o mercado e não será facilmente manipulado ou ludibriado pelo Empreendedor e seus planos para o futuro; (ii) Invista no Empreendedor em quem confie, isto é, mesmo não entendendo do mercado, o CEO ou o Fundador da Startup é um empresário responsável e tem histórico e bagagem profissional de quem costuma entregar seus projetos no prazo e obtém grandes resultados.
Retomando às rodadas de investimentos, estas acompanham a evolução do negócio. A pré rodada é chamada de pre seed (pré semente), onde usualmente o investidor será o próprio sócio fundador (bootstrapping[5]) e/ou co-fundador, a própria família, amigos e familiares (FFF) ou ainda crowdfunding[6].
Percebendo que precisa de mais investimento, o fundador procura outro co-fundador para trabalharem na ideia juntos, visto que não possui como contratar ainda um empregado, oferecendo, então equidade em troca de trabalho. Neste momento, outro solução poderia ser o Contrato de Vesting ou também chamado de Contrato de Opção de Compra de Participação Societária, com uma “pessoa chave” para o desenvolvimento do negócio, mediante a CONDIÇÃO de pré fixação conjunta de metas e objetivos alcançáveis em nome da Startup, o colaborador poderá vir a se tornar sócios da Startup.
Precisando de mais dinheiro (ou investimento), procura-os na própria família, em amigos e familiares, dando uma porcentagem da empresa para esse investidor. Em que pese sua parte da empresa diminua em porcentagem, esta cresce e o valor dela aumenta, consequentemente aumenta sua parte em valor. O melhor exemplo seria o Bolo: Inicialmente você e mais 1 sócios possuem 50% de uma Startup e ela valor de 50 mil reais, sendo 25 mil reais para cada. Quando eu recebo investimentos, o Bolo aumenta para 500 mil reais, porém você e seu sócio venderam 50% da sociedade, ficando cada um com 25% da participação societária, porém com valor (valuation) de 250 mil reais, sendo 125 mil para cada.
Outra forma é o investimento seria por crowdfunding, sendo que pessoas desconhecidas “doam” dinheiro para fazer a empresa crescer, em troca de receber o produto antes da sua venda ao público, por exemplo.
Nessa etapa pré semente busca-se a validação do negócio ou MVP (minimum viable product) ou Protótipo. Algumas empresas pulam esta etapa e isto pode representar a Morte da Startup.
O financiamento inicial é usado para levar a empresa do patamar validação da ideia inaugural aos primeiros passos, como desenvolvimento de produtos ou pesquisa de mercado. Nessa fase o investimento, normalmente é de 100 mil a 300 mil reais[7].
Já a primeira rodada de investimentos é chamada de investimento semente (seed), que acontece nos estágios iniciais das startups para definição das bases do negócio e formalização da atividade com início da produção e contratação de colaboradores, ainda na fase de validação. Tendo como investidores uma incubadora[8] e, sobretudo, os investidores anjos[9]. Nessa fase o investimento é de até 3 milhões de reais.
A segunda rodada de investimentos chama-se Série A. Em uma rodada da Série A, espera-se que as startups tenham um plano para desenvolver um modelo de negócios, conhecendo-se também o mercado e seus consumidores, além de já possuir um produto/serviço consolidado (Fase de Tração). As empresas precisam demonstrar que possuem um produto mínimo viável (MVP). Nessa etapa, busca-se impulsionar a escala de produção (Fase de Escala), otimizar a distribuição e expandir os mercados. Normalmente os investidores são os fundos de venture capital[10].
A série A é um ponto em que muitas startups falham. Em um fenômeno conhecido como “crise da série A”, mesmo as startups que obtêm sucesso com sua rodada de sementes, geralmente têm problemas para garantir uma rodada da série A. Nessa fase o investimento é entre 3 milhões à 30 milhões de reais.
As terceiras e quartas rodadas de investimentos são chamadas de Série B e Série C.
Uma startup que chega ao ponto em que está pronta para iniciar uma rodada da Série B já encontrou seu produto / mercado adequado e precisa de ajuda para expandir seu empreendimento, contratando funcionários, investindo em marketing e publicidade, talvez expandindo para novos mercados (Fase de Escala). Assim, busca-se a captação de recursos para escalar o negócio, aprimorando os processos, ampliando a empresa e buscando novos mercados, além de aumentar a equipe para que a empresa possa atender a crescente base de clientes. Os investimentos são feitos pelos fundos de venture capital. Nessa fase o investimento são de aproximadamente 5 milhões de dólares. Nesta fase e seguintes o investimento é de 30 a 300 milhões de reais.
Na série C, busca-se acelerar a empresa, lançando-se no mercado internacional. As empresas estão prontas para expandir para novos mercados, adquirir outros negócios ou desenvolver novos produtos. As empresas podem estar buscando aumentar sua avaliação antes de fazer uma oferta pública inicial (IPO) ou uma aquisição estratégica.
Um IPO oferece uma maneira de levantar dinheiro rapidamente e dar maior liquidez a seus investidores, para que o dinheiro deles não fique mais preso aos negócios. A outra opção é vender sua empresa a um concorrente, ou talvez a uma empresa de private equity, para levá-la ao próximo estágio da sua jornada, permitindo que você se mova para novos caminhos. Normalmente, esse investimento antecede a entrada dessas empresas na Bolsa de Valores. Os investidores são os fundos de venture capital, os braços de investimento de bancos ou grandes empresas de fundos.
Há ainda algumas empresas que efetuam rodada de financiamento D e E, embora não muito usual no mercado. Essas empresas podem ter descoberto uma nova oportunidade de expansão antes de fazer uma oferta pública inicial, mas precisam de mais um impulso para chegar lá ou, na maioria das vezes, a empresa não atingiu as expectativas estabelecidas após aumentar sua rodada da Série C. É também chamada de rodada descendente. Assim, ao Empreendedor de Startup, tem de se ter muito claro à sua mente que não deve queimar “cartucho” logo cedo por desconhecer as fases da sua Startup e as Fases de Investimentos, sob pena de se frustrar com ofertas muitas vezes descabidas e mal intencionadas, que colocam em risco o sucesso da sua jornada como Empreendedor
Felipe Ramalho Polinario
Advogado de Startups, Especialista em Processo Civil pela FGV/SP
Eduardo Giuntini Martini
Advogado de Startups, Especialista em Processo Civil pela Unisul/SC
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[1]https://economia.uol.com.br/noticias/estadao-conteudo/2019/05/12/investimento-em-startups-brasileiras-cresce-51-em-1-ano.htm
[2] https://labs.ebanx.com/pt-br/artigos/tecnologia/2019-recorde-investimentos-startups/
[3] https://labs.ebanx.com/pt-br/artigos/tecnologia/2019-recorde-investimentos-startups/
[4] https://www.sbcoaching.com.br/blog/pitch/
[5] processo de financiamento de uma startup por meio de suas próprias economias.
[6] Financiamento coletivo.
[7] https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,apos-investirem-r-5-bi-em-2018-fundos-de-investidores-ampliam-caca-a-startups-no-brasil,70002825141?utm_source=twitter:newsfeed&utm_medium=social-organic&utm_campaign=redes-sociais:052019:e&utm_content=:::&utm_term=::::&fbclid=IwAR2Jf7GiE2WGOXvPxXx35mT9-WcggcTPX5mjBUCy0mnqgdoaTxxYmxjJhnQ
[8] Local onde abriga-se vários tipos de negócios em estágio inicial, buscando uma forma de estimular o empreendedorismo, preparando e fortalecendo as pequenas empresas para fazê-las sobreviver no mercado.
[9] É um investimento feito por pessoas físicas com seu capital próprio em empresas em criação e em fase inicial de operação
[10] Investidores de risco para empresas de médio porte que já possuem solução ou produto validado no mercado, mas que ainda precisam se desenvolver e acelerar o crescimento.